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Novíssimos Baianos – A nova era Musical

 


Um grupo musical brasileiro originário da Bahia, precisamente em Salvador, formado por Moraes Moreira, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Jorginho Gomes, Bola, Baixinho e Dadi nos anos 70 que foi chamado de “Novos Baianos” numa apresentação realizada na Rede Record, ainda não tinham definido o nome do grupo foi quando o coordenador do festival, Marcos Antônio Riso na hora de chamá-los para se apresentar, gritou “chama aí esses novos baianos”. Sob forte influência dos movimentos contra-culturais e da Tropicália brasileira, o conjunto adotava um modo de vida comunitário que deixou uma marca tão profunda quanto suas composições. Com o lançamento de oito álbuns, os Novos Baianos ousaram com uma mistura original de rock e ritmos tipicamente brasileiros. Em 1972, produziram Acabou Chorare, álbum aclamado como um dos mais significativos da Música Popular Brasileira. Esse contexto é essencial para entender a profundidade e a importância de nossa criatividade, enraizada muito antes no tempo. A Bahia, em particular, se destaca como um berço de inúmeros gêneros musicais que não apenas se originaram aqui, mas também acabaram influenciando e sendo absorvidos por regiões além das suas fronteiras geográficas. A Tropicália, por exemplo, é um movimento artístico que nasceu na Bahia e se expandiu para todo o Brasil, com a fusão de diferentes gêneros musicais e influências culturais. Essa fusão ao mesmo tempo que expressava a diversidade cultural da região desafiava normas e tradições estabelecidas. Essa criatividade permeia os gêneros e as músicas que são posteriormente adotados pelo "eixo" – as regiões mais centrais do país –, mas não evidencia a Bahia, porém sabemos da importância desse estado na formação da identidade musical brasileira. Mais uma dessas afirmações ocorreu também com o grupo “É oTchan”, formado pelos cantores Beto Jamaica e Compadre Washington, os dançarinos eram Carla Perez, Débora Brasil e Jacaré, sendo que posteriormente Scheila Carvalho e Sheila Mello fizeram parte, e, na mídia convencional da época quando o grupo “estourou” classificavam-os como Axé Music. Mas em uma pesquisa rápida, sabemos que assim como o É o Tchau, outras bandas também que foram assim categorizadas como axé, por acharem que na Bahia só tinha esse ritmo, já bebiam e misturavam outros gêneros, como sambas juninos e sambas de terreiro para criar novas sonoridades. Toda vez a mesma história, não conhecem nossa história, dão nome a nossa identidade, interpretam como querem e vendem. Olhando o cenário musical hoje, seguimos criando de forma autêntica, mesmo ainda que eles sigam tentando apagar a nossa identidade. Estamos em um novo momento da música, temos o Trap ganhando forma a cada dia que passa, o Trap é um subgênero do rap/HIP-HOP que surgiu nos Estados Unidos. Fortemente surgindo no cenário nacional, o Drill também é um subgênero do rap/HIP-HOP e tem como característica um conteúdo mais sombrio, mais pesado. Temos diversos nomes que representam estes gêneros no cenário musical baiano como Vandal, o precursor do Drill, Ravi Lobo entre outros, no Trap a gente tem Makonnen Tafari, Suhhh, Cronista, Gibi e muito mais. Abrangemos de uma infinidade de artistas plurais e originais que fomentam a cena artística não só baiana, como nacional de uma forma única. Somos tão versáteis e criativos que fizemos uma mistura especialmente com estes subgêneros, e aí nasceu o PagoTrap e o Bahia Drill. Easy Vice, o criador do Bahia Drill redefiniu o cenário musical fundindo ritmos urbanos com autenticidade regional da Bahia, resultando em batidas envolventes e com histórias que marcaram a cena da música baiana de vários gêneros, além de letras marcantes. “Eu gosto de dizer que o Bahia Drill é mais que um ritmo; é um novo movimento que tem como pilar central a música, mas também explora a moda e as artes visuais. A sonora do Bahia Drill consiste em misturar o Drill Inglês com elementos da musicalidade baiana, sejam eles percussivos ou melódicos, a principal ideia é misturar os sons. Eu tive meu primeiro contato com o Drill em 2019, ao assistir o vídeo da música Keisha e Becky (Remix) e foi amor à primeira vista; a partir disso comecei a pesquisar sobre o ritmo e suas influências. Na época, eu fazia curso de percussão com o meu primo Vinicius Minhoca (Vinicius é um dos percussionistas mais brabos da Bahia, integrante da banda Bloco Ilê Aiyê). E estudando os dois ritmos pensei em uma forma de unir as sonoridades e criar de certo modo um novo ritmo. Com a sonoridade baiana, percussionistas como Vinicius Minhoca e Japa System tiveram uma grande influência nesse processo. Já do lado do Drill minhas inspirações foram a musicalidade dos rappers Russ Millions, Tion Wayne e Hedie One. Quando pensei no projeto do Bahia Drill eu queria algo diferente do que já acontecia na cena do Hip-Hop brasileiro. A característica diferencial é a experimentação sonora. Unir ritmos pode não soar original, mas quando se faz uma mistura de musicalidades que parecem ser tão opostas mas que na verdade conversam muito entre si, surge algo único. Para além da música, o propósito do Bahia Drill é trazer visibilidade para novos artistas que, por critérios errôneos do mercado, são invisibilizados. A primeira temporada foi composta por talentosas artistas mulheres soteropolitanas e, nas próximas temporadas, a ideia é expandir essa vitrine. A cena do Bahia Drill é um espaço de inclusão.” Descreve Easy. Atuando e mantendo desde antes, não pudemos deixar de evidenciar a carreira de Rafa Dias, ou melhor, RDD, do grupo Àttooxxá, a banda mescla nosso pagodão baiano, e sons que nasceram nas periferias de várias partes do Brasil, também traz a fusão do soundsystem à música eletrônica, com o intuito de ressignificar a música. “Nos primórdios, quando eu tinha 10/11 anos meu pai(dú nada) me presenteou com um cavaquinho e um pandeiro. A semente foi plantada ali. Mais "adulto" a música me tomou, um momento muito crucial foi quando um amigo meu(Félix) me presenteou com o crack do fruit loops. A cidade de SSA é realmente única em relação a música, quem não se inspira aqui tá maluco!!! Acho que a música negra no geral é o que me faz sentir elevado, inspirado!!! Gosto de música que toca a alma e ao mesmo tempo faz balançar. Acho que autenticidade/identidade é algo que estamos perdendo pouco a pouco com a globalização das informações e a pressão da "indústria" por "sucesso". A grande maioria quer remar com a maré, é de certa forma mais cômodo/simples. Eu minha vida toda sempre compus muito e todo tipo de música. Nunca tive banda cover, por exemplo, todas minhas bandas eram nesse sentido de tentar explorar coisas novas, novas sonoridades. Isso talvez esteja no DNA. Eu tenho desejo de ter um selo para desenvolver artistas, tenho colaborado muito com pessoas e é um sentimento muito real pra mim. Gostaria muito de desenvolver esses diamantes da nossa terra.” Relatou Rafa Dias. Dentro do cenário artístico musical baiano, especialmente o rap, a artista "Cronista do Morro" é uma figura profundamente comprometida com a música como um meio de expressão e transformação social. Cronista do Morro é uma artista profundamente influenciada pela cultura da periferia desde a infância, absorvendo uma ampla gama de gêneros musicais, como pagode, funk, rap, samba reggae, e outros, principalmente graças à influência de sua família. Inicialmente envolvida na música por meio da dança, ela desenvolveu uma paixão pela pesquisa musical aos 14 anos. Sua jornada artística é moldada pelo que vive, consome e compreende sobre música e vida, ela canta o que testemunha, experimenta e aspira construir neste mundo, construindo assim sua própria narrativa musical. No contexto da evolução da cena musical da nova geração, a artista Cronista do Morro desempenha um papel significativo, como ela mesma destaca: “Sinto que a Bahia sempre viveu em constante mudança, tanto os novos ou artistas com mais tempo de carreira! Há um movimento muito vivo que mantém o cenário baiano, que é a particularidade da nossa identidade histórica e cultural, faz com que estejamos sempre no fluxo evolutivo. Ser artista na Bahia, é uma luta muito grande pelo presente, não há possibilidade de perder tempo ou brincar pois nosso futuro está sempre sendo empregado/direcionado socialmente, por um sistema operacional de vida que há muitos anos utilizou de nossas histórias como armas contra nossa população. A violência contida dentro da nossa realidade afeta de forma tão profunda que é capaz de modificar a forma a qual você se enxerga no mundo! Por fim, pra mim o papel de artista periféricxs é manter viva a sua existência, e gerar criações para fomentar a nossa cultura musical, linguística, visual,ou qual seja a sua arte, afinal o futuro merece e precisa que o presente seja escrito com informações reais, essa é uma das nossas tecnologias ancestrais mais viva pela existência.” No PagoTrap temos Gibi, um dos nomes promissores deste género. Gibi, influenciado desde cedo pela música gospel de seus pais, encontrou sua paixão na fusão de estilos como R&B, Trap e Pagotrap. Esses ritmos interconectados agora definem a sua identidade, que contribui para a cena musical de Salvador com suas canções envolventes e apresentações apaixonadas. Sua conexão especial com o público e a capacidade de alegrar os dias das pessoas por meio de sua música são marcas distintivas de sua carreira. O artista reflete sobre a crescente cena artística e musical na Bahia, destacando que a região está ganhando cada vez mais visibilidade e reconhecimento. Ele ressalta a diversidade de talentos, desde artistas estabelecidos até aqueles que estão começando em seus quartos, todos contribuindo para a riqueza cultural da Bahia. “Cada vez mais a Bahia vem ganhando espaço e atenção da galera. Não só com a música, mas em todas as áreas da arte, temos grandes artistas aqui. Artistas que hoje já tem sua visibilidade e já fazem história e artistas que ainda estão no seu quarto, quietinho fazendo coisas incríveis. Hoje observo todos e me inspiro em todos. Tenho muito orgulho de ter nascido aqui e de todos que estão fazendo a cena acontecer de alguma forma. Eu comecei a gravar no meu quarto, sonhando com a ideia “do bairro da Liberdade pro mundo” e hoje conseguindo pouco a pouco ser abraçado pelo comercial, fazendo shows grandes, percebo que sou e posso continuar sendo uma inspiração para as pessoas que assim como eu, sonham em poder viver da música. Espero poder abrir caminho para outros artistas e somar com essa potência musical que é a Bahia.”