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A busca pela aprovação: quando a validação do eixo se torna verdade absoluta.


No Brasil, há uma síndrome de vira-lata que afeta muitos brasileiros em determinadas áreas de suas vidas. Essa síndrome, descrita pelo escritor e jornalista Nelson Rodrigues, é o complexo de inferioridade em que os brasileiros se declaram em relação ao resto do mundo; a síndrome exposta no século XX ecoa até os dias de hoje. Essa mentalidade da síndrome de vira-lata que assola o Brasil se manifesta também com intensidade na cidade de Salvador - considerando que muitos baianos de região metropolitana e outras regiões também visam a capital do estado - principalmente no contexto artístico!

Muitos artistas só conseguem ter sua arte valorizada quando ela é compartilhada por outros artistas ou pessoas de fora. Parece existir um pacto de que o reconhecimento e o sucesso só são alcançados quando se consegue "fazer a cabeça" das influências do eixo central, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, as capitais vistas como "as queridinhas" em referência de crescimento artístico do país. Essa necessidade de validação externa levanta algumas questões pertinentes: será que um artista só consegue vencer quando é visto por alguém de fora? Será que o reconhecimento de pessoas de outras regiões é aguardado para sermos reconhecidos talentosos e bem-sucedidos? Por que a cena artística e cultural de Salvador não valoriza seus próprios artistas, preferindo esperar pela aprovação externa?

É notório e também compreensível que muitos artistas soteropolitanos tiveram a necessidade de sair de Salvador - e muitos ainda têm - para ir buscar o reconhecimento no eixo central do país, especialmente em São Paulo, considerada a selva de pedra do Brasil. Essa busca por validação externa reflete a percepção de que o sucesso artístico está concentrado nesse centro cultural, e que é necessário fazer parte desse contexto para ser levado a sério. No entanto, essa busca incessante por "virar" no eixo pode levar os artistas a perderem sua identidade e originalidade, moldando-se de acordo com as expectativas e demandas do mercado; também pode fortalecer a ideia de que o sucesso só é alcançado quando aprovado por esse eixo, alimentando cada vez mais essa síndrome de vira-lata que afeta o cenário artístico e cultural do nosso país.

É importante que nossos artistas possam encontrar espaços para desenvolver seus trabalhos em Salvador ou aonde quer que seja, desapegando-se principalmente dessa necessidade compulsória da validação do eixo central externo - até porque sabemos em que ponto começa essa invisibilização e que o buraco é mais embaixo. É necessário se fortalecer valorizando sua própria cultura, ritmos, tradições, e tudo mais que é criado neste solo tão potente, para o crescimento e enriquecimento da cena artística local.